sábado, 27 de agosto de 2011

Mídia cerca, invade carro e constrange Gianecchini

TERRA 27/08/2011 03h00

Na entrada do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, um esquadrão midiático espera o ator Reynaldo Gianecchini, 38 anos, depois da primeira alta médica desde o início do tratamento contra um câncer raro (linfoma não-Hodgkin de células T). Mais de cinquenta jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas ondulam, inquietos, na tarde desta sexta-feira (26). A guarda das televisões foi armada ainda mais cedo.

Uma assessora do hospital tenta organizar a fileira de repórteres, mas antes é necessário atender às angústias.

- Giane vai falar? Ele vai falar?
- Manda ele parar aqui um pouquinho. Ele para, olha... Depois ele vai embora - pede um paparazzo.
- Ele vai fazer o quiser - avisa a assessora.
- Estou há vinte anos no ramo, me escuta - emenda o fotógrafo. - Ficamos aqui, ele dá uma paradinha de 15 segundos e vai embora... E nós também - sorri, professoral.

Passos adiante:
- Agora não é um bom momento! - irrita-se uma repórter, desligando o celular. - Meu namorado, inconveniente...

Na eulalia, um jornalista veterano procura distribuir sensatez:
- Ó, ninguém pode falar pro Gianecchini falar mais alto, viu?

Nada de Giane, e mais papos elevados:
- Meu sonho é um dia deixar de ser repórter de famosos e, quando encontrar uma celebridade, dizer: "Dá licença, vamos tirar uma foto!"
- A Sabrina (Sato), né? - sugere um colega, logo cativado por uma mulher com buquê. - Flores estão descendo... Ou é uma moça que já trouxe flores e está levando embora? - especula o ti-ti-tiete.

Acompanhado da equipe médica e de familiares, Gianecchini deixa o elevador e começa a ser interrompido por fãs, dentro do hospital. A aparição atiça os jornalistas e os nem tanto.

- Ai, ele tá lindo... - arfa uma repórter meticulosamente loira.

O ator aceita tirar fotos. E avança aos poucos, cauteloso na convalescença; ao redor, os murmúrios viram gritos.
- Quem está de camisa rosa?
- A mãe?
- Não, a mãe é loira!
- Quem está chorando atrás dele?

Com familiares, Gianecchini aceita falar com os jornalistas. Mas, com a voz um tanto rouca, antecipa que não vai demorar.
- Quero dizer que estou muito forte e essa minha força vem, em grande parte, desse carinho todo. As pessoas têm me mandado e-mails o tempo todo. Estou com o coração cheio de felicidade e absolutamente tocado por essa manifestação...

Os cinegrafistas cortam e abafam a voz do ator:
- Olha cá! Fala pra gente! Olha pra frente! Olha aqui, Giane!

Ele se esforça para levantar a voz. O rosto fica ainda mais pálido com os flashes contínuos.
- Eu estou muito forte, agradeço o carinho. Estou com o coração cheio de felicidade e absolutamente tocado com esse gesto de carinho. Vou ficar um pouco afastado, distante, por causa do meu tratamentinho, mas está tudo bem. Conto com a compreensão de todos vocês.

Novos chiados de fotojornalistas, ou caçadores de celebridades, atrapalham a mensagem do paciente. Uma jornalista baixa a câmera e o gravador, para gritar sua solidariedade:
- Giane, a gente te amaaaaaaaa!

Fragilizado após a primeira bateria contra o câncer - e um sangramento durante a passagem de um cateter -, Reynaldo Gianecchini sorri e, levemente, se dirige para um Fiat prata.

Agora, a caça. Fotógrafos e cinegrafistas abrem as duas portas do carro, do lado do motorista, e enfiam suas câmeras para congelar o constrangimento de Gianecchini. Os seguranças pedem:
- Deixem ele sair!

Cercado, o automóvel fica travado na porta do Sírio-Libanês; afastados os penetras, as acompanhantes conseguem fechar a porta, no ensaio de partida. Nada fácil. As câmeras cercam Gianecchini outra vez, para mais instantâneos. Atrás do Fiat, uma Blazer carrega orquídeas, rosas e bromélias enviadas ao hospital.

Na rua Barata Ribeiro, um pequeno congestionamento, provocado pelo semáforo, aumenta o alvoroço. Da sacada da Escola de Enfermagem do Sírio-Libanês, estudantes clamam pelo ídolo e tiram fotos com celulares. "Eu te amo!" vezes cinco. Os paparazzi largam a ponga, e a celebridade (ali, um paciente) consegue abandonar o alarido. Um visitante, cigarro entre os dedos, sai o hospital com uma pergunta:

- Tudo isso por causa de um homem? Pô. Ridículo.
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