domingo, 14 de novembro de 2010

Morreu o realizador Luis García Berlanga

Espanha

por EURICO DE BARROS
dn.sapo.pt 


Autor de filmes como 'Bem-Vindo, Mr. Marshall' e 'La Vaquilla' tinha 89 anos.

O realizador espanhol Luis García Berlanga, autor de clássicos do cinema espanhol como Bem-Vindo, Mr. Marshall (1953), Plácido (1961) El Verdugo (1963), La Escopeta Nacional (1978) ou La Vaquilla (1985), disse numa entrevista ao El País, em 2005, que detestava a mania que a comunicação social tinha de chamar aos realizadores "o melhor de Espanha, o maior da Europa, o número 1 do mundo. Porque é que não fazem o mesmo aos cirurgiões que transplantam órgãos?", perguntava.
Berlanga sofria de Alzheimer e morreu ontem, em Madrid, com 89 anos. De certeza que ficaria fulo ao ver-se referido nos media como "um dos mitos do cinema espanhol" ou "o maior realizador do cinema da Espanha do pós-guerra". O cineasta, que se gabava de ser "um dos poucos espanhóis que nunca passou da página três do D. Quixote", foi também referido por um escritor seu compatriota como "um dos grandes herdeiros do humor de Cervantes". E Michel Piccoli, que protagonizou Tamanho Natural (1974), no papel de um homem que se apaixona por uma boneca de latex comprada numa sex shop, dizia dele: "É o D. Quixote. Bem, mas também podia ser o Sancho Pança."
As suas comédias realistas de espírito ácido e satírico marcaram o cinema do país vizinho na segunda metade do século XX, retratando-o fielmente. Escrito a meias com Juan Antonio Bardem e Miguel Mihura, Bem-Vindo Mr-Marshall, passado numa vilória castelhana que se disfarça de andaluza para receber visitantes americanos, na mira dos dinheiros do Plano Marshall, é apontado como sendo "o início do moderno cinema espanhol" e ganhou o Prémio Internacional e uma Menção Especial no Festival de Cannes.
Nascido em Valência, em 1921, Luis García Berlanga era neto e filho de políticos, o que o levou a dizer mais tarde: "Foi com eles que percebi que a política era uma esterqueira, como tudo, aliás".
Estudou nos Jesuítas e cursou depois Direito, Filosofia e Letras, tendo combatido na Guerra Civil primeiro no lado republicano, e depois na Divisão Azul. Em 1947, fez a agulha para o cinema.
Definia-se como "acrata, anarquista burguês independente, pessimista, valenciano, tímido" e era também um fetichista militante, tendo dirigido uma famosa colecção de literatura erótica, La sonrisa vertical. Segundo ele, "um bom cu é mais relevante do que todas as ideologias".
Para Berlanga, "nada [num filme] deveria estar sujeito ao argumento, os actores é que deviam inventar a fita. Tenho fama de ser caótico, mas é a minha forma de trabalhar e o que almejei sempre".
O seu último grande filme é La Vaquilla, passado na Guerra Civil, em que um punhado de soldados republicanos é enviado para o campo franquista usando fardas inimigas, para roubar um touro que vai ser lidado numa aldeia e depois transformá-lo em comida para as tropas esfomeadas.
Berlanga ganhou três prémios Goya, foi presidente da Cinemateca Nacional de Espanha, recebeu a Medalha de Ouro das Belas Artes, em 1982 e, em 1986, o Prémio Príncipe das Astúrias das Artes, tendo sido o primeiro realizador a conquistar esta distinção. Tinha um cinema com o seu nome, em Madrid, inaugurado em Julho.

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