Nanda Costa, Rodrigo Lombardi e Flávia Alessandra / Foto Luiza Dantas - Carta Z Notícias
Desde que escreveu “O Clone”, em 2001, Glória Perez explora em suas novelas culturas estrangeiras e desenvolve histórias que se cruzam, paralelamente, com o Brasil e com algum outro país. Em “Salve Jorge”, que estreia amanhã, com retransmissão pela TV Diário, a autora mantém seu estilo sincrético ao dividir sua trama entre os deslumbrantes e milenares cenários da Turquia e a dura realidade do Complexo do Alemão – conjunto de 13 favelas na Zona Norte do Rio de Janeiro, recentemente ocupado por forças policiais.
É desta comunidade carente que a protagonista Morena, uma mãe solteira vivida por Nanda Costa, sai quando embarca para Istambul, em busca de uma oportunidade para garantir uma vida melhor para o filho pequeno. Isso sem saber que, na verdade, caiu na armadilha de uma articulada quadrilha de tráfico de pessoas. “Muita gente nunca ouviu falar de tráfico humano ou acha que é lenda urbana. Além disso, me emocionei com a pacificação do Complexo do Alemão, com o resgate de uma parcela da população que há muito vivia amedrontada, sob o domínio de leis paralelas. Quero dar visibilidade aos invisíveis. Dar voz a quem não tem”, valoriza a autora.
Na verdade, “Salve Jorge” parece contar com dois casais de protagonistas. De um lado, um romance que surge justamente durante a ocupação do Alemão. É neste momento histórico para o Complexo que Morena conhece o capitão do exército Théo, protagonista vivido por Rodrigo Lombardi. Os dois se apaixonam antes dela viajar para Turquia. Neste país, com mais de 2.500 anos de história, e antigo centro dos impérios Romano, Bizantino e Otomano, 50 pessoas da equipe da trama passaram 45 dias gravando em regiões como a Capadócia e a cidade cosmopolita de Istambul.
A primeira parada foi na Capadócia, conhecida pelos passeios de balões e formações rochosas que lembram o território lunar. É neste cenário, também chamado de “terra dos cavalos” - pela quantidade de equinos - que a descolada Bianca, personagem de Cléo Pires, inicia um triângulo amoroso. Acompanhada pelo namorado Stênio, de Alexandre Nero, ela acaba se apaixonando pelo charme rústico do turco Zyah, de Domingos Montagner, guia turístico local. “É uma novela complexa, que exige uma direção consistente para entrelaçar todos os universos. Estamos desenvolvendo uma obra que comove por sua amplitude”, valoriza o diretor geral e de núcleo Marcos Schechtman, antes de emendar: “Começávamos a gravar antes das cinco da manhã para aproveitar toda a luz possível”, salienta Schechtman.
A questão do tráfico humano será esmiuçada a partir da grande vilã da trama, Lívia, personagem de Cláudia Raia. Sofisticada, a suposta agenciadora de talentos vive rodeada de figuras importantes e não levanta suspeitas de seu envolvimento no esquema. Ao seu lado, trabalham Wanda, de Totia Meireles, sua auxiliar direta, e Irina, gerente de boates vivida por Vera Fischer. O pontapé inicial para a discussão, na verdade, começa antes do embarque de Morena. Jéssica, participação de Carolina Dieckmann na história, é a personagem que iniciará essa discussão. Ela embarca para o exterior acreditando que vai trabalhar em uma pizzaria, mas acaba obrigada a se prostituir. “Há muitas vertentes desse comércio de indivíduos. Vamos abordá-lo para três fins: sexo, trabalho doméstico e adoção ilegal”, adianta Glória. No decorrer dos capítulos, caberá a Heloísa, delegada vivida por Giovanna Antonelli, investigar o esquema.
Como de costume nas tramas de Glória Perez, parte do elenco passou por longos “workshops”. O núcleo da Cavalaria da novela passou uma semana convivendo com o dia a dia dos cadetes da Academia Militar das Agulhas Negras, em Resende, no interior do estado do Rio de Janeiro. Já a outra fatia do elenco aprendeu sobre a culinária típica da Turquia e frequentou muitas aulas corporais, como dança dos sete véus, dança do ventre turca e kavkaz, a dança que mais será exibida na história. “A kavkaz é um ritmo preponderantemente masculino. Tem muitos giros, palmas e até saltos mortais”, descreve Sandra Regina, que além de coreógrafa do elenco, faz parte da equipe de pesquisadores da autora. São dela todos os números musicais utilizados nas tramas de Glória nos últimos 25 anos. Do elenco, quem mais precisou treinar foi Cléo Pires, já que sua personagem se torna dançarina quando se muda para a Turquia. A atriz também teve aulas quando participou de “Caminho das Índias”, da mesma autora. Mas jura que, agora, é completamente diferente. “A dança indiana é muito mais de braço, mão, cabeça e olhar. Já a turca tem muita coisa de ventre. Usa os braços também, mas é um movimento mais ‘aciganado’”, resume.
Cidades
Para ambientar a história, “Salve Jorge” conta com três cidades cenográficas construídas no Projac, centro de produção de teledramaturgia da Rede Globo. Duas reproduzem regiões distintas da Turquia, enquanto a terceira e menor delas é utilizada para as sequências que retratam o Complexo do Alemão. A Istambul cênica tem 5,3 mil m², com direito à versão fictícia do Grand Bazaar, um dos maiores mercados do mundo. O espaço conta com diversos corredores, restaurantes e lojas de suvenires, doces e tapetes. “Trouxemos luminárias, olhos turcos de vidro, colchas, tecidos e muita cerâmica. E reproduzimos algumas peças por plotagem”, explica Juliana Carneiro, que assina com Mario Monteiro a cenografia da novela.
Para a Capadócia do Projac, também foram usados cerca de 5 mil m² de área. Na parte rural, veem-se muitas formações rochosas típicas da região. Já o lado turístico parte da cidade de Göreme e abusa de tons pastéis e areia para acentuar o clima iluminado e solar característico do lugar. Enquanto isso, a simplicidade impera na reprodução do Complexo do Alemão. Com ruas estreitas, muitos fios elétricos, escadas externas e caixas d’água visíveis, a terceira cidade cenográfica tem 1,8 mil metros quadrados. São 14 construções, entre elas uma laje turística, a casa da mocinha Morena, uma venda e o botequim de Clóvis e Diva, de Walter Breda e Neuza Borges. É neste bar que os personagens da comunidade vão se encontrar. Ali também funcionará o espaço onde alguns convidados ilustres devem se apresentar ao longo da exibição da novela, prática comum nas tramas de Glória Perez. (Márcio Maio / TV Press)
Cléo Pires e Domingos Montagner / Foto Luiza Dantas - Carta Z Notícias
QUEM É QUEM
Nívea Maria e Caco Ciocler / Foto Luiza Dantas - Carta Z Notícias
Zezé Polessa e Antônio Calloni / Foto Pedro Paulo Figueiredo - Carta Z Notícias
Cláudia Raia / Foto Divulgação Cláudia Raia / Foto Divulgação
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