terça-feira, 25 de setembro de 2012

Mulher que apronta não merece apanhar?

carminha_max

Imagine a seguinte situação: uma mulher enrola um cara a vida inteira. Ela diz que vai largar o marido e ser feliz com ele, que só precisa juntar uma grana para eles terem a vida que merecem. Os filhos dela são também do amante e a vida inteira eles estiveram um ao lado do outro.

No momento em que aparece a tal grana que os levaria a viver juntos e felizes, ela some com o dinheiro e quer tudo só para ela; não quer largar o marido e pretende continuar levando a vida de sempre. O que o cara faz? Bate nela. Ele sofreu a vida toda e é hora de se vingar. Certo?

Errado! Ninguém tem o direito de bater em ninguém gente, não importa o quanto você sofreu, foi feito de bobo ou abusado (emocional ou fisicamente). E esse é o último enredo da novela que vem fazendo maior sucesso no país — Avenida Brasil.

Sempre que vejo esse tipo de coisa penso em como a gente se orgulha em dizer que somos superiores a grande parte do mundo. Criticamos o Oriente Médio e sua crença que faz com que pessoas se tornem homens-bomba. Criticamos as mulheres islâmicas que são obrigadas a usarem véu cobrindo o rosto. Achamos um absurdo o preconceito racial que vemos na Europa. E adoramos apontar o dedo na cara do mundo para dizer como é absurdo o turismo sexual na Tailândia.

Somos realmente superiores a tudo isso. Só que não. Achamos que somos superiores, mas quando a violência da nossa sociedade é contra uma minoria — mulheres, gays, negros, pobres — tudo muda de figura. O gay que anda na rua de mãos dadas com o namorado "está pedindo" uma agressão. A mulher que veste roupas curtas ou deixa o marido/namorado com ciúme "está pedindo" para apanhar. O negro que resolve entrar numa loja chique para comprar algo que pode pagar "está pedindo" para ser olhado de ponta a ponta e ser tratado como inferior. O pobre que comprou sua moto para trabalhar como motoboy "está pedindo" para tomar tiro porque todo mundo sabe que motoboy não presta.

Ninguém está pedindo nada! Essa cultura de que certas pessoas merecem o que receberam acaba com toda e qualquer credibilidade que o brasileiro poderia ter. Ninguém tem que agredir, maltratar ou inferiorizar ninguém só porque a pessoa não está de acordo com o que você espera dela. E aí vem a novela que milhões de pessoas assistem e mostra que um cara bate na mulher porque ela deu um golpe nele e, como todo mundo tem raiva da personagem, deixa a sensação de que ela mereceu. Dá até para fazer um paralelo com o dia em que Luana Piovani apanhou de Dado Dolabella. Ela era tão arrogante com o mundo que teve um monte de gente dizendo que ela tinha merecido. Pois bem, as coisas não funcionam assim.

A Central de Atendimento da Secretaria de Políticas para as Mulheres do Governo Federal, em 2010, teve um aumento de 100% de ligações denunciando agressões contra a mulher e divulgou uma pesquisa dizendo que diariamente dez mulheres são vítimas de crimes passionais. Olha que loucura, todos os dias dez mulheres são mortas e o que o cara diz que fez o que fez porque a amava. Para mim não faz sentido. Amor, no meu mundo, é outra coisa. E é cada vez mais comum que as pessoas aceitem isso como simples descontrole. Mas qual o problema de uma novela mostrar essa situação? A arte imita a vida e tal, não é? O problema é que, em Avenida Brasil, a mulher não denuncia. A relação é tão doente que ela se cala e usa aquilo para aumentar a vontade de vingança, incluindo mais um nome na lista.

A TV Globo já tratou do assunto em outras novelas e durante "Mulheres Apaixonadas" e "A Favorita" o número de denúncias de violência doméstica aumentou. Nessas novelas a mulher era incentivada a denunciar, a não se calar e via exemplos de mulheres fazendo isso. Na novela atual a mulher vê a personagem se calando, aceitando aquilo como um preço para chegar a seu objetivo e o homem acreditando que está tudo certo, que foi só um momento de fraqueza e que ela precisava daquilo.

Pode parecer besteira, tem gente que acha que é exagero, mas o dia em que você conhecer uma mulher que sofre qualquer tipo de violência doméstica — física ou psicológica — vai entender como ela precisa do exemplo certo para reunir forças e fugir daquele ciclo que a maltrata tanto. O que vemos com o exemplo dado nesse fim de semana é mais uma vez a mulher entendendo que deveria se calar porque, no fim das contas, a culpada é ela.

No Brasil há uma mania assustadora de apontar a vítima como principal culpada. É o que disse ali em cima, a pessoa "estava pedindo" aquela reação e esse é o pensamento mais absurdo que poderia existir.

Ao navegar na internet você pode encontrar grupos de pessoas que acreditam que mulheres precisam apanhar para "entrar na linha", que lésbicas devem ser estupradas para virarem héteros e algumas outras coisas tão ou mais assustadoras quanto isso. O incentivo à agressão às minorias precisa acabar. Ou as pessoas estão esperando a hora em que as minorias vão cansar de ser vítimas apontadas como culpadas e vão partir para o confronto direto com seus agressores?

fonte:http://br.mulher.yahoo.com/blogs/preliminares/mulher-que-apronta-n%C3%A3o-merece-apanhar-135236962.html 
Por Carol Patrocínio | Preliminares
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