sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Uma tarde com Domingos Montagner

Domingos Montagner na Casa do Autor Roteirista, em 2013 (Foto: Luciana Serra/ Casa do Autor Roteirista)

Conheci Domingos muito fugazmente – nem sei se posso usar esse verbo, conhecer, de fato. Foi em um sábado, 6 de julho de 2013. Domingos era um dos convidados da Casa do Autor Roteirista, evento paralelo da Festa Literária de Paraty – FLIP. Eu estava trabalhando na área de comunicação da Casa e, por função ou acaso, tinha contato com os convivas. Domingos chegou com esposa e filhos. Chamava a atenção pela simplicidade sincera e pela simpatia – essas virtudes que, quando falsas, são facilmente desmascaradas. Não era o caso.

Durante o evento, lotação esgotada, Domingos leu excertos do livro ‘Coisas do Diabo Contra’, de Eromar Bomfim, que estava sendo lançado na Casa. Mas a parte mais impressionante foi sua interpretação de trechos da peça ‘Mistero Buffo’, do italiano Dario Fo. Domingos amava Dario Fo, um autor anárquico e cômico com o qual ele se identificava devido ao seu ofício de palhaço.

Foi seu amor pelo circo que o fez ir aprender, lá pelos idos dos anos 1980, as artes circenses na Escola Circo Picadeiro, em São Paulo. Ali conheceu Fernando Zanni – viraram amigos, formaram uma dupla de clowns e criaram o Circo Zanni, do qual Domingos era diretor artístico e um dos sócios.

Foram 26 temporadas com o Circo Zanni em picadeiros do Brasil e exterior, apresentando-se para mais de 130 mil espectadores. É pouco para quem é assistido todas as noites por milhões de pessoas na televisão; a presença do público, porém, concede uma intensidade que alimenta os atores de um modo que a TV é incapaz de fazê-lo.

Além do Circo, Domingos também estava à frente do Grupo La Mínima, que fundara em 1997 também com Fernando. Com o La Mínima encenou doze espetáculos e ganhou, em 2008, o Prêmio Shell de Melhor Ator por ‘A Noite dos Palhaços Mudos’.

Como se vê, Domingos era, antes de tudo, um raro ator com formação sólida e ampla – ia do circo ao teatro; do teatro ao cinema (onde, por sinal, está em cartaz no filme ‘Um Namorado para Minha Mulher’, ao lado de Ingrid Guimarães e Caco Ciocler), e do cinema para a televisão.

Estreou na televisão em 2008, no seriado ‘Mothern’ e brilhou em novelas como ‘Cordel Encantado’ (2011), ‘Joia Rara’ (2013) e, claro, ‘Velho Chico’. Particularmente gosto muito de sua atuação e personagem no seriado ‘Romance Policial – Espinosa’, no qual interpreta o delegado Espinosa, clássico personagem da obra de Luiz Alfredo Garcia-Roza.

Naquela tarde ensolarada domingos hipnotizou o público, que o assistia maravilhado e em completo silêncio – um silêncio quebrado pelas gargalhadas que arrancava com sua arrebatada interpretação. Um momento em que todos ali presentes entenderam por que o ofício de ator é sublime – e Domingos foi o responsável por isso. É a lembrança que vai ficar.

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