terça-feira, 6 de setembro de 2016

‘Velho Chico’, um caso de amor e ódio

Marcelo Serrado no papel de Carlos Eduardo em ‘Velho Chico’ (Divulgação/Globo)

Na história da teledramaturgia poucos folhetins dividiram tanto as opiniões quanto ‘Velho Chico’. E não estou falando apenas do telespectador “leigo” – entre a crítica especializada é visível que há fãs e também muita gente que torce o nariz para a novela. Não chega a ser uma surpresa: tal cisão só reflete a complexidade da trama de Benedito Ruy Barbosa com direção de Luiz Fernando Carvalho.

Seja pelo visual, seja pela narrativa, desde a sua estreia ‘Velho Chico’ tem causado estranhamento. E também desde a sua estreia nota-se uma certa má vontade em certas notícias a respeito da novela. Algumas manchetes quase gritavam de entusiasmo ao anunciar os números ruins da audiência ou ao revelar as supostas brigas nos bastidores entre o temperamental Luiz Fernando Carvalho e a direção da Globo.

E quando algo não vai bem – seja na economia, no futebol ou em novelas – sempre surgem as teorias sobre o fracasso. Normal, as teorias também surgem para explicar o sucesso – vide ‘Strange Things’. No caso de ‘Velho Chico’ jogou-se a culpa pelos números no enredo de Benedito, considerado repetitivo; na direção rebuscada de Carvalho e até mesmo na falta de empatia do público feminino, que não via um modelito usável nas personagens de Grotas de São Francisco.

Lá pela virada de junho para julho parecia que o mundo iria desabar para a novela. Sites e blogs sobre TV diziam que a coisa estava feia nos bastidores da Globo e havia até o risco de ‘Velho Chico’ acabar. Evidente exagero, claro, pois se uma bomba como ‘Babilônia’ não foi abortada, não seria o caso da atual trama. Foi mais ou menos por essa época que surgiram todas aquelas teorias do fracasso.

Mas eis que de repente ‘Velho Chico’ dá a volta por cima e fecha o mês de agosto com 32 pontos de média em São Paulo e 33 no Rio. Com isso ultrapassa as duas antecessoras (‘A Regra do Jogo’ e ‘Babilônia’) e mostra fôlego para chegar acenando para o público na reta final.

E, claro, é de se esperar que surjam nova teorias explicando essa virada. Alguns teorizarão que tem a ver com a mudança da trama, que ficou mais política e com visíveis alusões ao momento atual do País. Outros dirão que o bom desempenho está ligado ao crescimento de personagens como Carlos Eduardo (Marcelo Serrado), que representa os desmandos dos poderosos.

Sim, a interpretação de Marcelo Serrado está excelente e a novela, de fato, virou uma alegoria do momento atual do Brasil. Suas discussões também tocam em pontos relevantes, como ambientalismo, abuso de poder e corrupção. Desconfio – e aí é palpite meu – que a trama melhorou consideravelmente quando Benedito assumiu as rédeas depois do afastamento de Edmara Barbosa (embora ainda ache excessivo o chororô e gritaria nas cenas românticas). Mas vamos aos fatos: se ‘Velho Chico’ chegar ao final com números convincentes é porque insistiu no caminho escolhido em vez de desesperar-se e mudar de rumos como fizeram suas antecessoras.

Novela é uma “obra em aberto” como tanto gostam de apregoar seus teóricos, mas autores precisam ter pulso forte e seguir seus instintos. Como vimos em outros folhetins do horário, quem não persiste corre o risco de perder o público que conquistou sem ganhar novos espectadores. No caso de ‘Velho Chico’, talvez a teimosia e a marra de Luiz Fernando Carvalho esteja fazendo a diferença.

Este site não produz e não tem fins lucrativos sobre qualquer uma das informações nele publicadas, funcionando apenas como mecanismo automático que "ecoa" notícias já existentes. Não nos responsabilizamos por qualquer texto aqui veiculado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário